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À procura de cabras

Saindo cedo pela manhã, atravessámos uma região de montanhas de cascalho e vegetação rasteira até chegar a Al Hoota, no interior do país.

A gruta de Al Hoota foi descoberta em 1995 por um pastor. Sabe-se que a descoberta de grutas está normalmente associada a uma fábula, e sendo Omã um país riquíssimo em grutas selvagens e com uma enorme herança cultural do mundo árabe incluindo os Jins, espíritos capazes de enganar os maus incautos por simples diversão. Assim, as histórias de gado, principalmente ovelhas e cabras que entram em grutas e saem tempos depois a quilómetros de distância já sem pelo multiplicam-se tal como a história do conhecido de um conhecido ou um familiar distante a quem já aconteceu o mesmo.

Omã é um país de tradições antigas, onde a arte do pastoreio ainda tem considerável importância pelo que em algumas regiões tal como acontece em algumas zonas de Portugal por exemplo, um pastor pode guardar várias cabeças de gado de outros pastores.

Um dia, um destes pastores ao regressar trazia uma cabra a menos pelo que isso significaria uma perda de confiança por partes dos restantes donos de gado da região, então juntamente com o seu filho retomou à estrada percorrendo o caminho feito pelas cabras até que ouviu os balidos junto a um algar. Descendo ao fundo do algar encontrou a cabra perdida com uma fratura na pata onde tinha caído. Retornou depois com os restantes membros da aldeia para provar a sua inocência e que ainda podiam deixar as suas cabeças de gado ao seu encargo.

Após a descoberta e primeira exploração, a gruta foi também explorada pelas forças militares que ainda hoje utilizam o algar de entrada na gruta como zona de treinos durante o verão.

Após um período de estudo e preparação, o Ministério do Turismo de Omã, vendo a possibilidade da gruta decidiu abri-la ao público em 2006 construindo uma via de acesso por comboio elétrico desde o centro de visitantes até à entrada da gruta.

Em 2012 no entanto a gruta foi encerrada ao público pois uma inundação repentina destruiu todos os acessos e passagens. Ficou encerrada durante 4 anos apenas tendo sido reaberta para visitas durante o corrente ano com o apoio de uma empresa privada.

A gruta tem uma extensão de cerca de 5kms sendo que apenas podem ser visitados aproximadamente 800 metros. É uma visita que tem uma duração média de 45 minutos, percorrendo 230 degraus a subir e outros tantos a descer com várias paragens pelo caminho onde os guias dão explicações em inglês e com uma temperatura média de 21º a 23ºC.

A visita tem um custo de 6,5Rials por adulto e metade desse valor para as crianças no caso de visitantes estrangeiros, que ronda os 11€ por adulto, os habitantes nacionais pagam o equivalente a metade desses preços.

É uma gruta bastante interessante com um circuito circular a que os anfitriões chamam de percurso interessante na ida e chato no regresso pois curiosamente os espeleotemas como as estalactites, estalagmites, gours, colunas e mantos de calcite apenas crescem junto a uma das paredes da gruta. A parte oposta no entanto apresenta curiosas formações geológicas.

A parte mais distante da visita antes do regresso tem a ponta do único de três lagos presentes no interior da gruta. O nível de água do lago é controlado artificialmente pois a água ao subir tapa o sifão aumentando o nível de humidade no ar e consequentemente fica mais difícil respirar. O lago tem a particularidade de nele se encontrarem peixes cegos que juntamente com a única espécie de morcegos de Omã e aranhas compõem a fauna da gruta.

No centro de apoio aos visitantes à entrada há uma maquete com o modelo da região e da gruta, e no primeiro andar do edifício uma interessantíssima zona de interpretação com vitrines com amostras de rochas, fósseis, fauna local exterior e interior da gruta e 4 aparelhos multimédia com a evolução da formação do nosso planeta incluindo uma previsão da deslocação dos continentes para os próximos 150 milhões de anos, um sobre a formação das montanhas de Omã quando a placa tectónica da Península Arábica, colidiu com a da Eurásia, outro painel sobre como a água afeta as grutas e promove o crescimento de estalagmites e finalmente um painel sobre a influência geral da chuva nas zonas cársicas. Todos estes painéis são interativos e têm manivelas para mostrar o efeito pretendido.

Esta gruta é uma gruta morta, apesar de datar uns quantos milhões de anos, os sedimentos mais recentes de argila e outras rochas não permeáveis impede que a água da chuva se infiltre nas fendas da rocha e chegue às formações no interior da gruta, apenas recebendo água das inundações periódicas.

Os nossos guias explicam que a palavra Wadi em árabe e ao contrário do que este cavernoso pensava, significa desfiladeiro, ou seja, os vários desfiladeiros que existem na região podem carregar água da chuva que caiu a mais de 50 quilómetros de distância atingindo estes sistemas de surpresa. Inúmeras são as histórias de pessoas que acampam no interior de wadis pela sua beleza e acabam arrastadas pela força da água. Esta gruta em particular pode receber água de 3 wadis que convergem numa única entrada. Os pastores da região são pagos para manterem os wadis debaixo de olho, pois se um wadi com água não apresenta problemas, os 3 significam a evacuação da gruta.

Podem ver o resto das fotos em https://www.facebook.com/Cavetripping/

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