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Caminhando para Oriente



Nem só de visitas grutas vive um Neandertal e num Mundo cada vez mais louco em que parece imperar o medo sobre tudo há pequenas pérolas que nos fazem repensar toda a nossa perceção de realidade. Tanto quanto me consigo lembrar, a primeira vez que ouvi falar em Omã foi em 2015 durante um encontro sobre grutas promovido pela International Show Caves Association (ISCA) na Áustria (um dia farei uma reportagem sobre esse encontro e a belíssima gruta visitada).

Omã é um país localizado na Península Arábica e lar do local mais a Este do Mundo Árabe, tem 309.500 km2 e é lar de cerca de 4.4 milhões de pessoas. A primeira coisa que nos dizem quando falam em Omã é, apesar do medo inspirado por um punhado de fundamentalistas e da vizinhança do Irão do outro lado do Golfo Pérsico, Omã é um dos 10 países mais seguros do Mundo. Faz fronteira direta com os Emiratos Árabes Unidos, a Arábia Saudita e o Yemen. Omã é uma monarquia absoluta governada por um Sultão, tendo o reinado mais longo do Médio Oriente o sexto mais longo do Mundo. Tem um clima seco, típico da Península Arábica, contudo o sul apanha parte das Monções do subcontinente Indiano.

À chegada toda uma realidade diferente, uma paisagem árida de acordo com a expectativa, uma pista de aeroporto enorme atravessada por uma estrada de serviço que mais parecia uma autoestrada para terminar num terminal de aeroporto surpreendentemente pequeno. A primeira impressão, uma fila enorme para tratar do Visto de permanência, 17€ por um período de 10 dias, pago diretamente à chegada antes do primeiro check point de segurança marcado pelo caricato episódio em que as luzes falham, por um momento sinto-me em casa quando há falhas momentâneas de eletricidades muitas vezes sem razão aparente. Após aquisição do visto, mais uma fila para apresentação do passaporte no controlo aeroportuário, segue-se um caminho por uma pequena loja de Duty Free onde a faixa Non-Muslims Only junto à secção de bebidas alcoólicas te relembra que estás num país muçulmano. A recolha de bagagem, mais uma vez diferente, pela primeira vez, em vez de ter que esperar pela bagagem, há que procurar, como quem procura o Wally nos livros pois a bagagem já se encontra no chão entre as cintas ao contrário dos outros aeroportos em que aguardamos pacientemente para que a dita cinta seja ligada.

Depois de uma rápida viagem de táxi em que apesar da segurança na condução, a única regra imperativa é parar nos semáforos e STOPs. A gastronomia é condimentada, um primeiro impacto suave com vitela assada com batata e ervas aromáticas, A verdadeira experiência da gastronomia local começou com o jantar, oferecido num restaurante com uma magnífica vista sobre o porto de Omã, um dos mais importantes do Golfo Pérsico.

Para refrescar, um copinho de água com seiva de uma árvore típica do sul que é uma especialidade segundo os locais, seguindo-se umas entradas com umas bolinhas de vegetais fritos com molho de coco e hortelã deveras saborosas e uma salada de pepino, pimentos, alface e tomate cherry. A sopa à escolha de lentilhas ou cogumelos também bastante saborosa foi seguida do prato principal, uma mescla de sabores locais, arroz com cabrito, iogurte com pepino, estufado de vegetais com tâmaras com um gosto agridoce, a puxar para o doce, tomate esmagado com coentros e uma papa de arroz empapado com frango desfiado.

Para sobremesa, uma pasta de castanha com umas bolinhas de massa frita e para fechar café com cardamomo e tâmaras. Toda a refeição foi acompanhada de um excelente reserva, sumo de laranja natural. Se a completa falta de álcool em todas as refeições não fosse indicador suficiente de que estás num país muçulmano, o bacon de vaca ao pequeno almoço e as salsichas de frango definitivamente são.

Após o pequeno almoço tivemos uma pequena sessão sobre as grutas selvagens de Omã, geografia do território e inúmeras possibilidades de negócio.

Seguindo por uma bela estrada sénica com muitas montanhas à mistura, viajámos até Nizwa, a maior cidade do interior do país e antiga capital, onde o guia nos explica fala sobre a colonização portuguesa durante o século XIV e como o forte de Nizwa foi importante na reconquista do território pois as forças portuguesas ocupavam a zona costeira perto de Muscat a capital, e no interior árido ainda reinavam os governantes de Omã. Esta ocupação durou cerca de 150 anos até serem expulsos durante o século XV. Em Muscat ainda existem dois fortes edificados durante a ocupação portuguesa, e apesar de termos sido inimigos durante anos, o guia explica-me que a ocupação portuguesa também lhes trouxe novos conhecimentos e que nem tudo foi mau.

Depois de uma rápida viagem de autocarro chegámos ao hotel para a noite, uma construção parecida com um palacete árabe, com um grande pátio interior e os quartos todos à volta, com pouco tempo para nos refrescarmos do calor e cansaço da viagem, em breve saímos à procura do jantar, um jantar tipicamente beduíno com espetadas de frango e cabrito bem condimentadas de especiarias mas muito saborosas, asas de frango grelhadas, batata assada, arroz com passas e legumes salteados, perfeito para colmatar estes dois primeiros dias de um país de surpresas, amanhã, é dia dos cavernosos descerem às grutas...

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